quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Emblema: O Filme sobre a Ditadura que levou seu realizador pra prisão

Recentemente a Comissão Nacional da Verdade identificou 377 autores de violações aos direitos humanos durante a ditadura. Durante esse período, centenas de pessoas foram presas, torturadas, assassinadas e muitas ainda são dadas como desaparecidas. Enquanto isso, paralelamente, grupos de extrema direita, com tendências golpistas, lamentam o resultado das urnas e questionam a nossa sólida democracia. Recordar o passado ajuda o nosso futuro. Nada melhor que assistir ao emblemático Manhã Cinzenta, média-metragem de Olney São Paulo, realizado entre 1968 e 1969.
"Olney é a Metáfora de uma Alegorya. Retirante dos sertões para o litoral – o cineasta foi perseguido, preso e torturado. A Embrafilme não o ajudou, transformando-o no símbolo do censurado e reprimido."
De Glauber Rocha, em seu livro Revolução do Cinema Novo (Rio de Janeiro. Alambra/Embrafilme: 1981, p. 364)
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MANHÃ CINZENTA. Casal de estudantes é preso e torturado por forças repressoras 
Manhã cinzenta, primeira produção brasileira a ganhar o prêmio Obernhausen, na Alemanha Oriental, aborda um golpe de estado num país imaginário da América Latina. Um casal de estudantes se desloca para uma passeata onde o rapaz, um militante, lidera um comício. Presos durante a manifestação, torturados na prisão, eles sofrem um inquérito absurdo dirigido por um robô e um cérebro eletrônico. Tragicamente, a realidade copiou a ficção é o diretor Olney São Paulo foi perseguido, preso e torturado por conta deste filme. Os negativos e cópias do filme foram confiscados em 1969, felizmente uma das cópias foi salva e permaneceu escondida por 25 anos na Cinemateca do MAM no Rio de Janeiro.

"A proposta inicial de Manhã Cinzenta era que viesse a compor um projeto de um filme com três histórias. Dois episódios seriam acrescentados, a saber, uma comédia e um cinema-verdade, além do já existente, que ficou como a versão final. No entanto, com a apreensão de Manhã Cinzenta e a censura, o projeto foi abandonado por Olney São Paulo, ficando apenas um filme de caráter independente que, embora ficasse inédito no Brasil, ganhou muita repercussão em outros países. Exemplo desse reconhecimento e da valorização foi a premiação recebida na Alemanha, bem como as participações em festivais de Cannes, em 1970; Cracóvia, na Polônia; Viña del Mar, no Chile; Pesaro, na Itália, e em Londres." (fonte: Cine Cachoeira)
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REPRESSÃO. Personagem alegoriza fascismo e nazismo

Pra saber mais sobre Olney São Paulo e Manhã Cinzenta:



“Manhã Cinzenta é o grande filmexplosão de 1968 e supera incontestavelmente os delírios pequeno-burgueses dos histéricos udigrudistas. Montagem caleidocóspia, desintegra signos da luta contra o Systema – panfleto bárbaro e sofisticado, revolucionário a ponto de provocar prisão, turtura e iniciativa mortal no corpo de Artysta. O Cinema Nordestino, Cinema Popular metaforizado em Olney e Miguel Torres, vítimas dos invasores – Heroys do Brazyl!” - Glauber Rocha.

"A imagem que guardo do meu compadre é uma síntese daquele documentário que ele fez sobre os sábios do tempo, os velhos sertanejos que dominam sistemas ancestrais de medição meteorológica [Sob o ditame do rude Almajesto: sinais de chuva (1976)]. Vejo-o de chapéu de couro, no raso da caatinga, conversando com os ventos, para saber de onde vêm e para onde vão." - Nelson Pereira dos Santos sobre Olney São Paulo.

Manhã Cinzenta


Sinopse
Um golpe de estado num país imaginário da América Latina. O poder. A repressão. O filme que levou seu realizador aos porões da ditadura.

Gênero Ficção
Diretor Olney São Paulo
Elenco Sonelio Costa, Janete Chermont
Ano 1969
Duração 22 min
Cor P&B
Bitola 35mm
País Brasil

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