sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Após 407 curtas, Oficina que ensina Cinema na Periferia vira Livro

O que um jovem da periferia quer contar quando põe a mão na massa?

Por Redação TelaBr

Quando um jovem brasileiro tem a oportunidade de por a mão na massa e pegar em uma câmera para contar a sua história, o que ele tem a dizer? Preferem ficção ou documentário? Amor ou violência? O livro Cine Tela Brasil e Oficinas Tela Brasil: 10 anos levando cinema a escolas públicas e comunidades de baixa renda traz essas respostas e revela que, quando os jovens estão com a câmera na mão, os conflitos subjetivos são predominantes sobre as temáticas de violência e preconceito.

No ano de 2007, nasciam as Oficinas Tela Brasil, que foram idealizadas a partir da necessidade de se promover uma verdadeira transformação. O cineasta Luiz Bolognesi percebeu que, em vez de apenas assistir às histórias contadas, era importante e necessário dar a oportunidade do brasileiro comum também contar as próprias histórias em audiovisual. No primeiro ano, cinco cidades foram contempladas. As turmas eram formadas por 20 alunos cada, selecionados a partir de uma ficha de inscrição simples.

As Oficinas Tela Brasil colocaram 205 educadores em campo, atenderam a um total de 3.158 alunos, em sua maioria jovens, que produziram 407 curtas-metragens. O livro, idealizado pelos cineastas Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi após sete anos de realização de oficinas para jovens, traz a catalogação desses curtas, produzidos por mais de 3 mil jovens de baixa renda impactados pelo projeto de cinema. Um dado impressiona: das 407 produções, apenas em oito aparecem armas de fogo. Diferente dos filmes produzidos pela indústria cinematográfica, quando a periferia fala sobre ela mesma, a violência não é o tema central. “Não há nada mais revolucionário do que dar ferramentas para a expressão humana”, afirmou e acreditou Luiz Bolognesi, quando decidiu que também ensinaria o fazer audiovisual para dar espaço a tantas histórias que precisavam ser contadas pelo Brasil.

Uma das principais lições tiradas de todo trabalho realizado pela equipe coordenada pela educadora Moira Toledo e composta por Marina Santonieri e Henry Grazionli é que o cinema foi para aquelas pessoas uma chance – talvez única – de se fazerem ouvidos no contexto em que estavam inseridos. “Os alunos descobriam que, mesmo vivendo sob condições desaforáveis, podiam ter voz ativa e se fazer ouvir. Isso é definitivo para a autoestima. Não era raro ouvir um jovem dizer que aquela tinha sido a experiência mais importante da vida dele”, descreve Henry. Já Marina conta, em depoimento ao livro que “de repente” entendeu que o cinema poderia ser uma ferramenta de transformação social.

A mesma experiência, com as particularidades de cada local, foi repetida em 2014, durante a realização das oficinas, agora em Escolas Públicas do Brasil, pelo Instituto Buriti. O que os alunos querem contar quando colocam a mão na massa é o que estão vivendo e sentindo, e o que mais valorizam é justamente a possibilidade de serem ouvidos, de dizerem algo que, sem esse palco que é o cinema para eles, ninguém ouviria.

Nos sete anos do projeto, duas equipes conduziram as oficinas simultaneamente. Com visões distintas de como “alfabetizar” para o audiovisual, as equipes da Oroboros, comandadas por Moira Toledo, e da Corte Seco, por Edu Abad, fomentaram, cada uma do seu jeito, a criação e expressão dos alunos. Essas e outras histórias estão reunidas no livro sobre os 10 anos do Cine Tela Brasil e Oficinas Tela Brasil, livro será distribuído para 3 mil escolas públicas no Brasil e 500 exemplares serão vendidos na livraria do MIS-SP.

Fonte: Tela Brasil

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